Até onde o treinador é o vilão?

Até onde o treinador é o vilão?
O desempenho de um clube frente a uma temporada longa e com muitos jogos, é fundamental para obter sucesso financeiro, mas tem gente que se esquece disso

Após a partida Atlético 1×1 Tombense, eu precisei de refletir muito sobre o momento do Galo. E muitas coisas, passaram em minha mente. Lembranças e situações que, por muitas vezes, fogem da memória do torcedor.

Como um exercício à memória e também, é claro, esse início de temporada da equipe comandada por Luiz Felipe Scollari, resolvi relembrar aqui, algumas informações, números e fatos, para que o leitor possa me ajudar a entender a situação.

Precisamos analisar fatos e números, para colocarmos os devidos “pingos nos is” e, quem sabe, responder algumas questões pertinentes:

  1. Estamos sendo muito exigentes com a equipe, treinador e diretoria?
  2. Será que foram criadas expectativas altas, impossíveis de serem alcançadas com esse plantel, treinador e projeto que temos?
  3. Será que o Galo, entre todos os principais clubes brasileiros, encontra-se em um hiato técnico?
Exigência

Sai ano, entra ano e, se lembrarmos bem, o “normal” do Galo é sempre começar com “o freio de mão puxado”. Nos últimos anos, raras vezes tivemos uma equipe “azeitada” no início da temporada. Aliás, o comum, no Galo, é começar a temporada com promessas altas e desempenho baixo. Às vezes devido a reformulações no elenco, no comando técnico ou na gestão. E isso nos leva à próxima questão.

Expectativas

Seja na troca de diretoria ou na necessidade de afirmação, a virada do ano, no Galo, sempre foi cheia de promessas: “time competitivo”, “buscar algo bom”, “início de um novo ciclo”, “nova gestão”, entre tantas frases de efeito, por parte de dirigentes e treinadores. Além da mídia na divulgação das notícias que, geralmente “jogam na conta do torcedor” expectativas exacerbadas. Nesse ponto, há alguns pontos, objetos de discussões recorrentes: De quem é a responsabilidade pelo equilíbrio disso tudo? A resposta, deixo para o leitor.

Técnico

Amado, odiado, às vezes as duas coisas e pelo mesmo torcedor. Sim, parte da cultura do futebol, principalmente no “universo Atleticano, dão conta de que o treinador é o culpado (ou responsável) por tudo. Afinal, a necessidade de “cravar” um motivo pelo baixo rendimento da equipe, na maioria das vezes, leva a críticas sobre o treinador. Raramente (embora aconteça), as críticas caem sobre o grupo de jogadores ou sobre a direção do clube e suas escolhas. Ainda que seja o conjunto de todas essas coisas, o técnico continua sendo o “grande vilão”.

É claro que quando o trabalho, quando bem feito e bons frutos são colhidos, o treinador é imediatamente lembrado. Porém, a proporção entre elogios e críticas, sempre pende para o lado das críticas.

O que é inegável, é que, como já disse, na maioria das vezes, os inícios das temporadas (mesmo mantendo treinador), têm sido de desempenho baixo dos elencos do Galo. E quando não foi, ainda assim, a expectativa alta, acaba colocando culpa sobre o treinador. E injustiças acontecem, vejam o caso do Turco.

Bem, apresentarei a seguir, fatos e números de quatro treinadores que passaram pelo Galo. E deixo a conclusão, por conta do leitor.

Nesse “balão de ensaio”, vamos falar do desempenho do Galo, sob o comando técnico de Cuca, Turco, Chacho e Felipão. Alguns fatos que merecem serem lembrados por todos nós, afim de sabermos de onde viemos e onde poderemos chegar.

É apenas um exercício comparativo. Não trataremos títulos, pois objetivo aqui, é desempenho da equipe. Volto a afirmar, a conclusão é do leitor. A seguir um pouco sobre a tragetória de cada treinador.

ALEXI STIVAL – CUCA

Em 2021, Cuca chega para comandar o Atlético e assume a equipe, após o início da temporada.

A pré-temporada e os quatro primeiros jogos, a equipe foi comandada por Lucas Gonçalves, que obteve 100% de aproveitamento, utilizando um time alternativo.

Os jogos iniciais

no comando, foram complicados, Cuca tentou uma ruptura de estilo de jogo e, o time “patinou” muito. O próprio treinador assumiu o erro, pediu paciência. Com humildade e resiliência, conseguiu dar padrão de jogo, utilizando a volúpia ofensiva (imposta pelo seu antecessor) e aliando à fase defensiva, começando na pós-perda da bola, além de uma “novidade”, marcação mista e treinada para cada adversário.

Nos 35 jogos iniciais de Cuca, foram 23 vitórias, 7 empates e 5 derrotas. Aproveitamento de 72%. O histórico das partidas, pode ser acompanhado clicando aqui.

ANTONIO MOHAMED – EL TURCO

Chegou ao Galo no início da temporada de 2022 e participou do final da pré-temporada. Comandou o Galo em 45 jogos, com 28 vitórias, 13 empates e 5 derrotas, obtendo aproveitamento de 72%, conforme dados disponíveis aqui.

Ainda assim, foi demitido sob a justificativa de que o desempenho da equipe, não era satisfatório. E, embora jogadores, empresários e staff dos mesmos, afirmavam que Turco era querido e respeitado, o bom desempenho da equipe, não foi o suficiente para manter o treinador no cargo.

Foi substituído às pressas por Cuca, que veio “apenas para ajudar”, o Galo a se classificar. Cuca teve um desempenho abaixo do antecessor e o time só se classificou para a Libertadores, graças ao trabalho de Turco.

EDUARDO COUDET – CHACHO

Chegou ao Atlético para comandar toda a temporada 2023. Durante a negociação para ser contratado, obteve a promessa de que além de serem supridas as saídas (em quantidade e qualidade igual ou superior), haveriam contratações pontuais. Inclusive, no início do ano, o próprio presidente concedeu entrevista, onde deixou claro que a questão das reposições e qualificação do elenco eram ponto comum entre treinador e direção.

O Galo teve as saídas de Keno, Nacho, Sasha, Alan, Jair, entre outros e não conseguiu repor a altura. As cobranças ao comando técnico sugiram. O próprio treinador demonstrou insatisfação e chegou a cobrar a diretoria durante coletivas.

Apesar de não ter o elenco prometido, Coudet ainda fez um bom trabalho. Nos 35 jogos sob o seu comando, o Atlético obteve 21 vitórias, 8 empates e 6 derrotas, com aproveitamento de 67%

A “gota d’água”, foram três fatores preponderantes que abalaram a confiança do torcedor no trabalho de Coudet:

  1. A eliminação, na Copa do Brasil, frente ao Corinthians, onde o treinador pecou pelas escolhas que fez. Foi um jogo que desconstruiu o trabalho que vinha fazendo. Houveram falhas capitais de jogadores (alguns errando pênaltis), mas tudo foi “ocultado”, devido ao relacionamento ruim do treinador com a cúpula do time.
  2. O técnico foi acuado e cobrado ostensivamente, pela maior organizada, na porta do CT (seu local de trabalho) e o Clube sequer refutou a ação. E aqui abrimos “parêntesis”, para explicar todo o contexto. O treinador não queria a saída de alguns jogadores pois, naquele momento, entendeu que não teria as reposições compactuadas entre treinador e direção. Ainda assim, a equipe perdeu peças e a cobrança veio na “conta do treinador”.
  3. Após o empate contra o Bragantino, pelo Brasileirão, o treinador cobrou energicamente os jogadores. E na coletiva, “abriu um vespeiro” ao criticar a diretoria, pela falta de qualificação do elenco. Nos “subterrâneos” foram criadas algumas narrativas que se mostraram falsas:
    • Uma dava conta de que o treinador havia perdido o grupo – Porém, em entrevistas na zona mista e nos dias seguintes, os atletas desmentiram-na. Inclusive, até hoje, os jogadores se lembram do churrasco de despedida de Chacho. E todos frisam o quanto ele era querido pelo grupo.
    • A segunda, era que o treinador havia se despedido do grupo, dizendo que não voltaria a treiná-los. Jogadores foram perguntados sobre e, todos tinha uma certeza (“voltaremos a treinar com o Coudet na semana que vem”). Coudet, inclusive retornou para trabalhar na segunda, quando perguntado, espantou-se e disse não ter conhecimento disso. Então, foi elaborada uma terceira “fake” que dura até hoje, e talvez não saibamos quem de fato esteve envolvido diretamente nela.
    • A fake mais descarada, nojenta e manipulatória que eu já vi no futebol, foi exatamente sobre a entrevista de Coudet, após a derrota em casa, contra o Libertad do Paraguai. Todas as traduções da entrevista; E aqui quero deixar claro, TODAS, diziam que Coudet “desrespeitou a instituição Clube Atlético Mineiro” e que ele falou mal dos jogadores (absurdo, que alguns “comentaristas”os quais eu chamo de “aproveitaristas”, disseram que ele falou mal de Batagglia, Zaravia e Lemos – os jogadores que ele trouxe pessoalmente, por falta de ação do Galo!!!). O que impressiona é CONSTATAR que a tradução da tal coletiva, tenha sido feita de forma PORCA. Ou, para quem acredita em teoria da conspiração, uma tradução que “homologasse” as necessidades da direção do clube – nunca saberemos. O fato é que as grandes mídias e os influenciadores, influenciados, repercutiram a entrevista porcamente traduzida e, com isso, o discurso da direção foi apoiado pela maioria dos torcedores. A tradução CERTA, você assiste aqui.

No fim, Coudet fez um acordo com o Atlético, se desligou e os números de Chacho, estão aqui.

LUIZ FELIPE SCOLLARI – FELIPÃO

Assume o comando do Galo em junho, na partida Fluminense 1×1 Atlético, pelo Brasileirão de 2023. Em poucos dias, faz declarações de que o Atlético não precisava contratar jogadores, que iria trabalhar com aquele grupo. Acalmou a torcida, fez o papel de manter as críticas longe da gestão.

Mas, mesmo não admitindo, a falta de reforços o incomodava nitidamente. Existiam e ainda há deficiências no plantel, que é muito qualificado, mas faltam peças pontuais (e aqui nem estamos falando de jogadores caros e/ou renomados).

Teve a oportunidade de começar o ano implementando sua filosofia de trabalho pois não perdeu jogadores titulares e ainda, ganhou Gustavo Scarpa e Bernard (no meio da temporada).

O fato é que Felipão à frente do Galo, coloca em cheque várias justificativas da gestão, com relação à condução do futebol.

Em diversas entrevistas, lemos e ouvimos:

“O mais importante no futebol é o desempenho do trabalho”

“É preciso que o time apresente em campo, o valor do investimento”

“É necessário que valorizemos nossos jogadores. Eles são ativos do clube”

“Time bom, vencedor e que joga um bom futebol, atrai público e consequentemente, receitas”

Até aqui, o início de temporada do Galo, é um dos piores, desde 2014. Com relação ao desempenho de Felipão, temos o pior quadro, desde 2022, entre os treinadores.

Foram 36 jogos, 16 vitórias, 9 empates e 11 derrotas, obtendo 53% de aproveitamento

Uma curiosidade: sob o comando de Felipão, o Galo não obteve nenhuma vitória com virada de placar.

Números do Galo sob o comando de Felipão

Antes de responderem, quero deixar claro que, a diretoria faz as escolhas e a mídia, ás vezes se esquece que, até pouco tempo celebrava a decisão da direção do clube, agora aponta os erros. Pois tem a necessidade emergencial da aprovação do torcedor.

Claro que o treinador também cria os seus “fantasmas”. E no caso atual, vale lembrar que o “mantra” entoado por Felipão, ecoa nos corredores da Cidade do Galo: “Não precisamos de contratar jogadores”. Embora o próprio sabe que enfrenta os mesmos problemas enfrentados por Coudet – O Galo vem contratando “oportunidades” de mercado. Onde o custo de transferência é zero ou perto disso.

E isso, restringe e muito a reposição ou reforços de jogadores que atendam as necessidades dos treinadores.

Agora, cabe a você, fazer uma análise e, porque não, uma autocrítica. Pois como sabemos, o Galo vem, nos últimos anos (com raras excessões), de desempenhos abaixo do esperado, nos inícios de temporada.

A caixa de comentários está aberta. Conto com vocês.

Saudações Alvinegras.

Fotos da capa: Sportv/Reprodução
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Julio Lazarotti

DJ, Produtor, Radialista, sniper de estilingue e especialista em dar pitacos a respeito de ⚽️ futebol e 🏈football. PHD na degustação de churrascos e alimentos butequísticos. Possui mestrado na arte de consumir "pelotas del fuego", brejas e afins. 🐦 @JuliaodaMassa - 📸 @JulioLazarotti Produtor na Cidade Web Rádio

Um comentário em “Até onde o treinador é o vilão?

  1. Podem voltar todos os técnicos citados, menos o Cuca, coloco o Sampaoli, meu preferido, no lugar dele.

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