A Síndrome do Segundo Tempo

A Síndrome do Segundo Tempo

A Síndrome do Segundo Tempo – Postura inadequada, cançaso ou maldição?Arquibancada do Galo

Jogo de Libertadores é traiçoeiro. Essa frase repetida desde tempos imemoriais pode explicar o que aconteceu no segundo tempo do jogo do Galo diante do Penharol depois que o Glorioso marcou o seu terceiro gol. Mas, não justifica totalmente o drama, até aquele momento insuspeito, que Atletico viveu nos últimos 30, 35 minutos da etapa complementar. E, tampouco, satisfaz o exigente e apaixonado torcedor atleticano.

A queda de intensidade, de energia, de inspiração e o cansaço físico e mental que se verificaram no segundo tempo do jogo contra o Penharol têm se repetido com frequência preocupante nas partidas do Atlético desde os tempos de Felipão.

E, ainda que se deva reconhecer que após a chegada de Milito este problema vinha sendo melhor administrado, sem causar danos sérios e irrecuperáveis, não há como esconder que o susto levado nesta partida acende o alerta e recomenda atenção e trabalho antes que algum prejuízo insanável ocorra.

Os números são frios e não mentem. Só nesses 8(oito) primeiros jogos sob o comando do treinador argentino o time atleticano tomou 0 (zero) gols no primeiro tempo e sofreu 8 (oito) na etapa final. Mas, “por que parou?” “Parou por que?”, se perguntavam atônitos os milhões de torcedores alvinegros espalhados pelo planeta.

Postura inadequada, cansaço ou maldição? Ou as raizes da síndrome do segundo tempo estariam fincadas em outras razões? Tudo isso, junto e misturado? Urge fazer este diagnóstico que, claro, deverá ir além daquelas justificativas que nada constroem e sem, por óbvio, deixar de reconhecer eventuais méritos dos adversários.

Da mesma forma, não se pode desprezar os diversos fatores, internos e externos, que inevitavelmente estão sempre se conjugando desfavoravelmente à manutenção de um rendimento regular do time atleticano durante os 90(noventa) minutos.

Nesse sentido, vale à pena ler e compartilhar a seguinte mensagem postada pelo atleticano Victor Barboza (@victorbarbuza) em suas redes sociais:

“os jogadores do @Atletico estão entregando muito! 👏

Jogar nesse nível de intensidade sem ter 3 dias completos de descanso. Treino? Descanso? Milito deu padrão a esse time com muita conversa e vídeo, entre os poucos treinos. Está invicto, mas o calendário segue horrível! 👎”.

Com pouquíssimo tempo de trabalho, espremido por este calendário pesado e em meio a viagens longas e de logística muitas vezes complexa e extenuante, Milito conseguiu mostrar o potencial tático e multifuncional de vários jogadores e resgatar a autoestima e a alegria de jogar do elenco, ao mesmo tempo em que não teve como esconder os desequilíbrios e as limitações do grupo.

Neste jogo contra o tradicional time Uruguaio, por exemplo, Milito tinha três três zagueiros de ofício no banco e apenas dois homens de construção, Pedrinho e Igor Gomes, sendo que um deles, já motivacional e espiritualmente fora do Atlético, porquanto já é certo o seu desligamento do clube no meio desta temporada, i.e., dentro de dois meses no máximo.

A exemplo de Felipão, Milito tem visto as suas opções se reduzirem em razão de um número de lesões que também está a requerer uma diagnose acurada. O desgaste de vários jogadores é visível até para o mais incauto dos observadores. E o irrequieto treinador argentino sabe perfeitamente, como, aliás, sempre admitiu em suas coletivas, que fazer um rodízio é vital, necessário e inevitável.

Ainda que para muitos amantes do futebol fosse despiciendo fazer uma análise mais aprofundada, é fácil perceber que os jogos das primeiras rodadas do Brasileirão já mostraram o quão difícil e equilibrado tende a ser este campeonato.

Torneios de longa duração como o Campeonato Brasileiro exigem regularidade que só é obtida com trabalho, planejamento e elencos equilibrados e “largos” como, em seu “portunhol”, defendia o Turco Antônio Mohamed. Ou seja, elencos que deem opções em qualidade e em quantidade para que o técnico possa rodar e escalar, jogo a jogo, o melhor time.

O Atlético que tem também duas outras competições pesadas em paralelo, será obrigado a fazer deslocamentos complicados e, jogando ora na terça, ora na quarta, ora na quinta, ora no sábado, ora no domingo e talvez até nos outros dois dias da semana, terá não só que rodar o elenco, como, também, que reforçá-lo pontualmente nesta ou naquela posição.

Além disso, invariavelmente terá que jogar contra o sistema como o jogo da estreia diante do Corinthians já deixou bastante claro. Acredito que não é preciso explicar porque arbitragens ruins, intencionalmente tendenciosas ou não, assim como as recorrentes e perniciosas ações externas dos inimigos de plantão, contribuem para potencializar os já enormes e preocupantes desgastes emocional e mental que os jogadores alvinegros já não conseguem esconder.

Diante de um cenário tão agressivo é de se esperar que o comando alvinegro, particularmente os homens envolvidos diretamente na gestão do futebol, já tenham traçado as diretrizes para dar ao Milito tudo aquilo que ele vai necessitar para fazer o time atleticano alçar os voos que todo atleticano sonha e espera ver.

Em algum momento Milito será obrigado a lançar algumas jovens promessas da base, além dos recém-contratados Palácios e Robert, de 21 e 20 anos de idade, respectivamente, em jogos que serão verdadeiras fogueiras. Como não queimar estes garotos? Como dar ao jovem Alisson Santana estabilidade emocional e encaixá-lo de vez no time e nas ideias de jogo de Milito?

Aqui, o Prof. Dalmar Duarte, especialista em futebol de base, faz um alerta para o treinador e, particularmente, para quem cuida das categorias inferiores do Atlético: um projeto de formação e de transição é fundamental. Mostrar a importância e fazer desenvolver nos jovens jogadores o cultivo pelo futebol coletivo e multifuncional é essencial, além, é claro, de prepará-los emocional e mentalmente para os desafios, blindá-los e fazê-los sentir apoiados, protegidos e nunca sozinhos.

Enfim, só o tempo e o trabalho feito a partir de um diagnóstico sério, acurado e que considere todas as variáveis envolvidas, conseguirão fazer o Atlético superar a síndrome do segundo tempo.

Fotos: Pedro Souza/Atlético
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Max Pereira

Atleticano e humanista. Um povocador nato. Engenheiro e Auditor Fiscal aposentado. Escritor nas horas vagas.