Será o fim da Colina de Lourdes?

Será o fim da Colina de Lourdes?
Porque na raiz dessas inquietações do atleticano existem muitas perguntas sem respostas, mais dúvidas do que certezas e muitos fatos questionáveis e preocupantes

Não, não estou pretendendo requentar aquela notícia sobre uma quase certa venda do prédio da sede administrativa do Atlético localizada no bairro de Lourdes, conhecida e chamada de forma lúdica e sentimental por gerações de atleticanos de COLINA DE LOURDES, mesmo porque essa é uma ideia recorrentemente aventada e testada junto ao torcedor, ora por gente do próprio clube, ora por algum formador de opinião ou por algum perfil alvinegro.

A reação negativa a esta “notícia” de grande parte da massa atleticana evidencia um misto de razões sentimentais. A perspectiva de ver algo, mais que um endereço, símbolo de uma história e de uma identidade, desaparecer, é para o atleticano inadmissível e terrivelmente angustiante. E são exatamente as emoções e os sentimentos do torcedor atleticano nos tempos atuais o mote deste artigo.

E por que venho insistindo nesse tema neste e em outros espaços? A resposta é simples: porque na raiz dessas inquietações do atleticano existem muitas perguntas sem respostas, mais dúvidas do que certezas e muitos fatos questionáveis e preocupantes que a constituição da SAF alvinegra fez gerar no mundo atleticano.

Se para muitos Galistas a demolição do velho Estádio de Lourdes, as suas repetidas desapropriações e, finalmente, a polêmica e, para muitos, inaceitável venda do Shopping, significaram uma série de rompimentos dramáticos e doloridos com parte significativa da história do clube, a simples possibilidade do Atlético se desfazer da sede da av. Olégario Maciel é impensável.

Vender a sede de Lourdes seria, para muitos Galistas, o marco derradeiro e melancólico do fim de um Gigante que por mais de 100 anos vem sendo vida, alimento, sonho, realização, alegria, felicidade e razão de existir de milhões de aficcionados perdidamente apaixonados.

O craque goiano da camisa 10, Tomazinho, que brilhou com o manto sagrado nos anos 50 e início da década de 60, ao visitar e ser homenageado na sede de Lourdes muito tempo depois, não escondeu seu desapontamento e tristeza ao ver um imponente Shopping onde ele, anos atrás, desfilou o seu talento e marcou a grande maioria de seus mais 100 gols pelo Atlético.

Tomazinho sentiu o que milhões de atleticanos sentiram e sentem todas as vezes que percebem que algum patrimônio sagrado do clube se desfaz ou é colocado em xeque. E eu que vi pela vez primeira o Atlético ao vivo e em cores exatamente no velho Estádio Antônio Carlos em um jogo vencido pelo Glorioso por 2 x 0, gols marcados por ele, Tomazinho, contra um adversário cujo nome já não me lembro mais, não só entendo perfeitamente, como também confesso me sentir tomado por esse turbilhão de pensamentos que vem deixando muitos e muitos corações alvinegros em polvorosa.

Oficialmente, o Atlético desmentiu a última especulação a respeito de uma possível venda do prédio de sua sede administrativa, argumentando que para realizar tal negócio era preciso autorização do Conselho Deliberativo o que, até então, não havia acontecido.

Mas, ainda assim, a controversa constituição da SAF atleticana e o que tem acontecido dentro e fora do campo a partir de então, continuam contribuindo para gerar nos corações e nas mentes atleticanas outro tanto de sentimentos conflitantes e perturbadores. E o que tem gerado tudo isso precisa ser dirimido e enfrentado e, não há melhor forma de fazer isso do que debater à exaustão e cobrar de forma construtiva.

O primeiro passo é entender que o termo sagrado COLINA DE LOURDES significa muito mais do que um endereço ou uma referência geográfica.

Símbolos, brasões, escudo, mascotes, cores, nome, raiz, origem, história são a essência constitutiva de algo que pode ser resumido nas palavras IDENTIDADE e PERTENCIMENTO, cujos significados que se completam, se retroalimentam e se transformam em uma coisa só: ATLETICANIDADE.

A história deste Gigante das Gerais tem como lastro a identificação de um povo miscigenado, de origens, etnias, religião, formação, orientação politica e sexual, nível erudito, valores e princípios diversos, com esse Galo de bico afiado, forte e vingador.

Por isso, não canso repetir que “SEM A MASSA O GALO SEQUER EXISTIRIA. ESSA É A LIÇÃO DAS ARQUIBANCADAS”, título de meu último artigo aqui no Arquibancada do Galo no dia 29 de fevereiro passado.

Atleticanos de todas as idades, classes sociais, crentes, ateus, agnósticos, héteros e homossexuais, homens e mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, patrões e empregados, chefes e subordinados, brancos, negros, indígenas, gente de ascendência asiática, doutores e analfabetos, unidos pela mesma fé rezam uma nica oração que os seus corações ensinaram:

“Creio neste Atletico poderoso, forte e vingador, razão de meu viver. Creio nesse Galo maluco, mais famoso e mais amado do mundo. Creio nessa paixão tresloucada, infinita e mais forte do que o vento. Creio que um gênio e um artilheiro fenomenal se fizeram reis. Creio em um santo que foi canonizado no Horto e na magia de um bruxo que fizeram o Galo ser dono da América”.

“Creio nos gols espíritas de um cara chamado Ubaldo e conhecido como Miquica. Creio no trio maldito e venero o diabo louro. Creio que foi em Vespasiano que surgiu uma bomba santa. Creio na opinião e na mística do velho Kafunga. Creio nos superpoderes de um incrível super-herói, o Hulk atleticano. Creio que enquanto existir uma criança, o Galo é imortal. Creio que sou do Atlético Mineiro, até mesmo depois da morte”.

Não há, pois, como acreditar que um dia poderemos assistir o fim de tudo o que significa Colina de Lourdes. Seria o mesmo que não acreditarmos em nós mesmos. Sacou?

Foto: Pedro Souza/Atlético
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Max Pereira

Atleticano e humanista. Um povocador nato. Engenheiro e Auditor Fiscal aposentado. Escritor nas horas vagas.

Um comentário em “Será o fim da Colina de Lourdes?

  1. A sede não foi vendida porque os 4 ratos já têm o que queriam, a Arena Kalilzão. Se depender do Conselho, a venda será como foi a instituição da SAFadeza, a toque de caixa e tirando os adversários do caminho

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